ATA DA DÉCIMA
SESSÃO SOLENE DA QUINTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA NONA LEGISLATURA, EM
05.05.1987.
Aos cinco dias do mês de maio do ano de mil novecentos e oitenta e sete reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Décima Sessão Solene da Quinta Sessão Legislativa Ordinária da Nona Legislatura, destinada a homenagear a Comunidade Judaica de Porto Alegre, pela data da Independência do Estado de Israel. Às dezesseis horas e quarenta e cinco minutos, constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e convidou os Líderes de Bancada a conduzirem ao plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Ver. Brochado da Rocha, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Dr. Alceu Collares, Prefeito Municipal de Porto Alegre; Dr. Abrahão Finkelstein, Presidente, em exercício, da Federação Israelita do Rio Grande do Sul; Rabino Efraim Guinsberg, Grão-Rabino do Rio Grande do Sul; Dr. Abrahão Faermann Sobrinho, Vice-Presidente da Confederação Israelita do Brasil; Dr. Israel Lapchink, Presidente do Conselho das Entidades Judaicas; Dr. Salus Finkelstein, Presidente da Organização Sionista do Rio Grande do Sul; Ver.ª Gladis Mantelli, 1ª Secretária da Câmara Municipal de Porto Alegre. A seguir, o Sr. Presidente concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Ver. Isaac Ainhorn, em nome do PDT, em especial do Ver. Brochado da Rocha, proponente da presente Sessão, do PDS, e do Ver. Independente Jorge Goularte, fez um breve relato da história de Israel e do povo Judaico, dizendo que esse povo conquistou sua independência, sua liberdade com muita luta, pois liberdade não se ganha, mas se conquista. Comentou que o povo judeu sempre lutou pelos ideais de justiça e liberdade, e que estes princípios sempre ajudaram os judeus a resolverem seus conflitos. Ao final falou sobre a importância da formação do Estado de Israel, do reencontro do povo judeu com Jerusalém e da grandeza da figura de Ben Gurion. O Ver. Clóvis Brum, em nome do PMDB, saudou a Comunidade Judaica presente com a palavra “shalon” que quer dizer paz, no vocabulário judaico, dizendo do grande significado desta para os israelitas, visto que esse povo desde sua formação até hoje tem sofrido perseguições de cunho político e racial. Ao término, ressaltou a importância do Movimento Sionista para o povo Judeu, analisando o seu significado. E o Ver. Aranha Filho, ressaltou a importância desta homenagem à Comunidade Israelita, cumprimentando o proponente da Sessão pela iniciativa. Disse que o povo judeu vem mantendo sua tradição através do testemunho. Comentou que a visão universal de Oswaldo Aranha foi tirada dos princípios básicos do judaísmo: liberdade, justiça e igualdade. Comentou a estrutura política do Estado de Israel, baseada na democracia e no fortalecimento do Poder Legislativo. A seguir o Sr. Presidente concedeu a palavra ao Dr. Abrahão Finkelstein, Presidente, em exercício, da Federação Israelita do Rio Grande do Sul, que agradeceu a homenagem prestada pela Casa. Em continuidade o Sr. Presidente fez pronunciamento alusivo a presente solenidade, convidou as autoridades e personalidades a passarem à Sala da Presidência, convocou os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã à hora regimental, e levantou os trabalhos às dezessete horas e cinqüenta minutos. Os trabalhos foram presididos pelo Ver. Brochado da Rocha e secretariados pela Ver.ª Gladis Mantelli. Do que eu, Gladis Mantelli, 1ª Secretária, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelo Sr. Presidente e por mim.
O SR. PRESIDENTE (Brochado
da Rocha):
Com a palavra, o Ver. Isaac Ainhorn, que falará em nome da Bancada do PDT, do
Vereador independente Jorge Goularte e pela Bancada do PDS com assento nesta
Casa.
O SR. ISAAC AINHORN: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores, demais autoridades aqui presente, minhas Senhoras e meus Senhores.
Falo, nesta oportunidade, em nome da Bancada do Partido Democrático Trabalhista
e igualmente em nome do Vereador independente Jorge Goularte, por especial
deferência da minha bancada e especialmente do requerente desta Sessão Solene,
Ver. Brochado da Rocha.
Independência é liberdade política. Liberdade não se ganha, se
conquista. Há 39 anos Israel obteve sua liberdade, sua Independência. Não sem
luta, não sem o sangue generoso dos que a conquistaram. Mas, acima desta luta,
o que é invejável, admirável e exemplo para todas as nações, é que o Estado de
Israel continua em sua perpétua luta para manter esta liberdade, a sua
soberania perante o mundo. Uma conquista diária, constante, mantida minuto a
minuto, segundo a segundo, com o sangue de seus filhos, os cidadãos de Israel.
Um perpétuo estado de beligerância, para manter o bem maior do homem: a sua
liberdade.
A história do povo de Israel é muito antiga, embora o Estado tenha
apenas 39 anos. De Moisés a Ben Gurion passaram-se séculos da História do
mundo, tempo em que o povo judeu legou à humanidade uma cultura e uma tradição,
ainda hoje admiradas, através dos livros sagrados - a Torá e o Talmud - a farta
contribuição dada às ciências. Este legado ainda nos dias atuais é transmitido
a todos os povos, pois os judeus, onde se encontrem, permanecem sempre ao lado
dos que defendem os valores democráticos, da igualdade de todos perante a lei,
opondo-se, diuturnamente, contra o racismo, contra a discriminação e em defesa
da vigência plena dos Direitos Humanos para as minorias e para todas as facções
políticas de um Estado. Para manter vivo todo este cabedal de ensinamentos, há luta
constante, há eterna vigilância, esforços, sacrifícios. A liberdade, repetimos,
não se ganha, se conquista. Esta é a história de Israel.
Mas os judeus, esta é verdade incontestável, por mais longa que seja a
defesa da verdade, da justiça e de liberdade, continuam sendo um dos mais
antigos povos civilizados. E, inseridos dentro destes ideais, os judeus,
exilados de sua Pátria por milênios, na sua longa trajetória de dores,
sofrimentos e perseguições, jamais deixaram de clamar pelo retorno à sua terra prometida
onde pudessem concretizar e implantar o sonho de uma sociedade alicerçada nos
ideais de liberdade e de justiça social, sempre presentes na história do povo
judeu, manifestas na mensagem dos profetas por uma sociedade consubstanciada na
justiça e irmandade entre os homens e de paz entre as nações, cujo conteúdo
moral e religioso é a própria base do judaísmo e inspiração do cristianismo e
do islamismo. E são este princípios que hoje animam os judeus e Israel a
resolver os conflitos no Oriente Médio, a despeito daqueles que ainda alimentam
sentimentos anti-semita e que querem restaurar políticas de solução final
substituindo as câmaras de gás por outras soluções como a de jogar os judeus no
mar.
A história do povo judeu é um desfilar de lutas, de dores e de
sofrimentos. Mas, acima de tudo, um rosário de bravura e indômita vontade de
vencer. Os judeus na diáspora jamais deixaram de se referir à Palestina como
sua terra, embora seu território tenha sofrido conquistas de diversos povos até
chegar ao mandato britânico e finalmente conquistar a sua independência em
1948.
Através dos séculos, os judeus lutaram por seu retorno á terra de seus
antepassados e reconquistaram a condição de Estado, notadamente ao final do
século XIX, quando o movimento ganhou grande vigor sob a liderança de Theodor
Hertzl.
O primeiro quartel do século XX já prenunciava os difíceis dias por que
atravessaria o povo judeu anos mais tarde. A perseguição aos judeus na Europa,
que muitos teimavam em negar, aumentava dia a dia. Na Alemanha, a ascensão de
Hitler era um fato inquestionável. As frágeis estruturas das instituições
políticas alemãs abriram espaços para os desígnios autoritários de um títere
que arrastaria o seu povo a uma de suas páginas mais tristes, sensibilizando
até os liberais da época, a pretexto de salvar o mundo do comunismo
internacional. Não restou a seus opositores, exceção feita aos que tiveram a
sorte do exílio, senão o aniquilamento nas ruas das grandes cidades da
Alemanha, e após os campos da morte. A ascensão do hitlerismo alastrava-se com
furor voraz e encontrou no povo judeu o seu bode expiatório. Primeiramente,
isolando-o da sociedade ariana para, numa fase seguinte, confiná-lo em campos
de concentração, onde seis milhões de judeus foram exterminados nas câmaras de
gás do “grande império nazista”, transformando-se no maior e mais hediondo
genocídio da história dos homens.
O sentimento da criação de um lar nacional para o povo judeu, em sua
Pátria histórica, Israel, veio a significar um refúgio às perseguições que os
judeus vinham sofrendo, desde a Antigüidade, atingindo, na Segunda Grande
Guerra, o seu ápice no massacre inominável e sem exemplo até os dias de hoje.
Foi esta a mola propulsora da vontade dos líderes esclarecidos na formação de
um Estado que pudesse acolher a todos os perseguidos e contrapor-se a novos
Hitleres e pseudos-donos de uma raça superior.
Nos dias atuais, Israel continuou perseguindo os mesmos propósitos de
uma paz duradoura para o Oriente Médio. A vocação dos judeus através da
História se tem caracterizado pelo alto espírito da solidariedade humana,
liberdade e justiça social. A busca incessante da paz para o Oriente Médio é
para Israel uma questão de sobrevivência, pois tem consciência de que só a paz
manteria vivo o Estado judeu, sobretudo considerando-se as suas dimensões e as
dos estados árabes com quem faz fronteiras. E, dentro deste propósito, David
Bem Gurion, em 1960, afirmava estar disposto a encontrar-se com Nasser, no
local que escolhesse, dialogando quantas horas fosse preciso para conseguir a
paz e mesmo uma aliança, tendente à cooperação cultural, econômica e política.
Anos mais tarde, Israel e Egito conseguiram chegar a um acordo, abrindo mão o
Estado judeu de ricos territórios na procura eterna da almejada paz duradoura
para o Oriente Médio. E, hoje, quando mais uma vez articulam-se os antigos
inimigos de Israel, de novo, este não se opõe a restabelecer conversações para
obtenção de uma paz permanente no Oriente Médio, mas que tem por pressuposto
básico e imprescindível discutir com interlocutores que renunciem à violência e
ao terrorismo como prática política.
Após toda a tragédia que se debateu sobre o povo judeu na Segunda
Grande Guerra, finalmente, a 29 de novembro de 1947, a Assembléia das Nações
Unidas aprovou uma Resolução que determinou a criação de um Estado judeu no
território de Israel, conferindo a este povo o direito natural de ser igual aos
demais povos, dono de seu destino e de um estado soberano. Cumprindo a
determinação da ONU, David Ben Gurion, a 14 de maio de 1948, na Cidade de Tel
Aviv, em sessão do Conselho Provisório do novo Estado, proclamou a
Independência de Israel.
E Ben Gurion, usando da palavra sob forte emoção, a voz embargada,
profere as seguintes palavras: “Nós, membros do Conselho do Povo, representantes
da comunidade judaica, da terra de Israel e do movimento sionista, estamos aqui
reunidos e em virtude de nosso direito natural e histórico e por força da
resolução da Assembléia Geral das Nações Unidas, declaramos o estabelecimento
do Estado judeu, em Eretz Israel, a ser conhecido como Estado de Israel”. Era o
reencontro, perseguido durante séculos pelos judeus com o seu destino e com o
seu lar nacional.
Depois de séculos de perseguição e de sofrimento, fazia-se justiça
àquele povo que como gado era conduzido pela besta nazista para os campos de
extermínio de Treblinka, Auschwitz, Dachau, Belzec, Sobidor e outros e que
custou a vida de seis milhões de judeus. Resgatava-se a memória do Mordechai
Anilevitch e de tantos outros combatentes do gueto da Varsóvia que, num grito
de rebeldia, não se dispuseram mais a morrer de joelhos. No entanto, a luta do
povo judeu não parou aí, mantendo uma heróica defesa de seu território. No dia
seguinte ao de sua independência, o Estado de Israel foi invadido por exércitos
regulares de vários países árabes. A Independência, isto é, a liberdade,
voltamos a repetir, não se ganha, mas se conquista.
Ao lado disso, o ano de 1987 assinala os 20 anos do reencontro do povo
judeu com Jerusalém, a atual capital do Estado de Israel e a cidade da Paz
sagrada para o judaísmo, para o cristianismo e igualmente sagrada para o
islamismo.
Quando, em 1948, foi criado o Estado de Israel, tendo Jerusalém como a
sua capital, a cidade voltou a ser o que fora há três mil anos, quando o Rei
Davi a escolheu como capital do Primeiro Reino de Israel. Seu filho, o sábio
Rei Salomão, tornou-a ainda mais famosa, construindo dentro de suas muralhas um
magnífico templo dedicado ao Deus Único de Israel. Assim, a cidade deixou de
ser simplesmente a sede de um governo nacional para se transformar num centro
religioso e, consequentemente, um lugar sagrado. Um dia depois da criação do
Estado de Israel, Jerusalém ficou dividida, em conseqüência da violenta guerra
do novo país que tinha um dia de vida. Mas 19 anos depois, em 1967, após a
Guerra dos Seis Dias, Jerusalém voltou a ser reunificada. Depois de exatamente
1.897 anos, o Monte do Templo voltou a ser o coração da capital de Israel. As
barreiras que dividiam a cidade foram removidas e os portões da Cidade Velha foram
abertos. Desde então, todos, qualquer que seja sua religião, têm franco acesso
a todos os lugares santos em toda e qualquer parte da Cidade.
Jerusalém libertada prova, mais uma vez, que nada se conquista sem
luta, sem sacrifícios, sem renúncias. Que Jerusalém reunificada há duas décadas
traga a união entre árabes e judeus, numa vida dentro de harmonia, respeito
mútuo e em plena paz. Mas, acima de tudo, que signifique e se traduza como
exemplo do que já afirmávamos: a Independência, a Liberdade, são eternas
conquistas que não são ganhas de graça, mas com lutas. Israel é prova disso.
Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (Brochado
da Rocha):
Com a palavra, o Ver. Clóvis Brum, que falará em nome da Bancada do PMDB com
assento nesta Casa.
O SR. CLÓVIS BRUM: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores, desejo cumprimentar toda a
comunidade judaica nas pessoas de meus grandes amigos, Dr. Israel, David
Dubin e Dr. Jayme. Através desses três, eu dou a minha saudação muito fraterna
a toda a comunidade judaica. O Procurador do Município está presente, o
Presidente da Carris, demais autoridades.
Os Senhores me perdoem. Realmente, eu não sei ler o discurso. Vou
tentar, porque o protocolo assim o determina rigorosamente e fica muito mais
difícil ler o discurso quando a gente fala a uma comunidade a qual admira, a
qual rende constantemente homenagens em sessões como esta que se tornou uma
tradição na Câmara Municipal de Porto Alegre. (Lê.) “ ‘Shalom’ comunidade
judaica! A palavra diz do desejo de paz, do desejo permanente de paz. Que a paz
esteja contigo. Mas nem sempre, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, a paz é
alcançada. Nem sempre esta mensagem consegue chegar no coração dos homens.
Muitas comunidades, muitos povos não
entenderam, não entendem e não querem entender esta palavra mística. Ela traduz
uma força espiritual muito grande para esse povo milenar que é a Comunidade
Judaica. Esse povo semita de origem e sionista na alma, meu caro Dr. Santos,
vem através de suas mais legítimas inspirações, desejos, dizendo em toda a sua
história, “shalom”, tributando e pedindo paz.
Mas a história de Israel não nasce, rigorosamente, com o Estado de
Israel. A história de Israel vem lá do patriarca Abraão, aquele que recebeu a
voz de Deus para levar seu povo à terra prometida; vem de José que, no Egito,
dá uma contribuição marcante a sua gente; vem dos quatro séculos de cativeiro a
que esse magnânimo povo esteve submetido em Israel; vem lá do Monte Sinai,
Monte Sinai devolvido de presente ao Egito num sinal de paz. Vem lá do Monte
Sinai, quando Moisés recebia as Tábuas da Lei, mandamentos esses que,
rigorosamente, norteiam toda a ação da criatura humana, em todos os povos. Vem
desde as águas do Mar Vermelho, abrindo-se para a passagem triunfal de Moisés
conduzindo seu povo em busca da terra prometida. Vem da declaração da
Inglaterra, da célebre declaração reconhecendo um lar nacional no território
Palestino. Vem da ONU, da decisão de Oswaldo Aranha, vem da Bíblia. Esta é a
história de Israel. Não quis, de propósito, vos lembrar os momentos mais
difíceis por que passou esta comunidade, este povo. É verdade, Vereador
Presidente, Brochado da Rocha, que nos oportunizou esta Sessão Solene, é
verdade, Ver. Isaac Ainhorn: seis milhões de homens, de mulheres, de velhos, de
crianças morreram nos campos da velha Europa. Eram aquelas nuvens que só descem
quando o poder da ditadura, do fascismo tomam conta daquelas áreas. Acontecia o
genocídio como a página mais negra, não só da comunidade judaica, mas de toda a
história do mundo. O nazismo de Hitler exterminando seis milhões de pessoas
inocentes. Qual era o crime que esta comunidade e aquela gente havia cometido?
A participação nas artes, no comércio, na literatura, na ciência, esse era o
crime de seis milhões de pessoas mortas no momento de maior infelicidade que
talvez o globo tenha registrado. Senhores da comunidade judaica, especialmente
se comemora 100 anos de existência do grande comandante dos últimos tempos Davi
Ben Gurion, o extraordinário David Ben Gurion, aquele que tornou realidade a
terra prometida, o lar nacional e o Estado de Israel. Eu, particularmente - e
discutíamos, conversamos com alguns companheiros da Bancada do PMDB, - tenho a
minha posição franca, aberta, discutível, sim, com referência ao sionismo. O
sionismo é um movimento paramilitar. Não! O sionismo não é uma outra coisa
senão a porta pela qual passa a alma e o desejo de todo o povo de Israel em
consolidar, em manter o seu lar Nacional, a sua Pátria, a sua terra prometida,
nem que para isso tenha vivido constantemente as mais violentas tentativas de
expulsão, de novas expulsões da sua terra prometida. O sionismo para mim é um
movimento extraordinário. Eu entendo assim. Ele é aquele que orienta, que
oportuniza a que os filhos de Israel, mesmo dispersados por todo o mundo,
vejam, sintam, lutem, se esforcem no sentido de manter o seu lar nacional. Não
tem outro sentido. O sionismo é um movimento de armas, de coração. Eu entendo
assim. É um movimento onde homens, mulheres. Na maior parte das suas ações,
rezam para que o Estado de Israel continue lá, aquele pequenino grão de areia
no imenso Oriente Médio. Esse é o sionismo que eu conheço, Sr. Presidente.
Trinta e nove anos se passam e Israel resiste. Israel reza. Israel, de manhã,
de tarde e de noite, tributa “Shalom”, mas continua, mas persiste, porque
Israel tem que existir. A sua história milenar lhe dá pelo menos o direito de
ter o seu país, de viver e morar na sua terra prometida.
Esta é a nossa mensagem, a mensagem do PMDB, a saudação do PMDB à
Federação Israelita por ocasião das comemorações do 39º aniversário da criação
do Estado de Israel. Sim, PMDB que é Nova República; sim, PMDB que é Governo do
Estado, com todas as dificuldades, com todas as lutas, com todos os problemas,
mas esta é a mensagem do PMDB. E por acaso Israel não teve maiores problemas? E
não sobreviveu? E não se consolidou? Nossa mensagem aos homens e às mulheres
que têm obrigação de tocar esta luta para frente, de consolidarem o seu lar
nacional, de manterem o seu lar nacional.
E, com toda a sinceridade, acho que um dos instrumentos bonitos que tem
a comunidade judaica de manter o seu país, o seu lar nacional, a sua terra
prometida é através do sionismo, sem violência, sem armas, mas pela oração e
pela fé que tem esta gente milenar, este povo magnânimo, este povo que sofreu.
Aliás, dizia o Dr. Jayme numa oportunidade: este povo que não tem de
pensar no sofrimento, este povo que não se lamenta, mas que trabalha e que
reza. Nossa saudação.” Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (Brochado
da Rocha):
Com a palavra, o Ver. Aranha Filho, que falará em nome da Bancada do PFL com
assento nesta Casa.
O SR. ARANHA FILHO: Sr. Presidente, demais
autoridades presentes ou representadas, Senhoras e Senhores, Vereadoras e
Vereadores. Inicialmente, cabe-me cumprimentar os dois Vereadores que me
antecederam, Ver. Isaac Ainhorn e Ver. Clóvis Brum, pela abordagem com que
homenagearam o povo judeu nestes 39 anos de independência do Estado de Israel.
Cabe-me, também, em nome do Partido da Frente Liberal, cumprimentar o Sr.
Presidente da Casa, Ver. Brochado da Rocha, pela iniciativa de homenagear esta
comunidade. (Lê.) “O alimento e depois o mandamento. A nutrição para o corpo,
seguida do dever espiritual. Esta é mais uma lição que o judaísmo, na sua
sóbria e milenar sabedoria nos transmite: não se pode exigir deveres morais de
quem tem fome. Os direitos humanos começam pelo simples, pelo elementar. Os
direitos do homem começam por um pedaço de pão, ázimo ou não.” (Moacyr Scliar,
in “Um Sêder para os nossos dias”.)
Povo judeu: grupo humano que há, aproximadamente, quatro mil anos vem
mantendo sua tradição, religiosidade e princípios morais embasados no
“testemunho”. Dar testemunho é a missão maior do judaísmo. Dar testemunho é
distinguir entre a luz e as trevas, entre o justo e o injusto. É relembrar os
tempos que passaram para que deles se extraia o presente a sua lição.
Em testemunho, vos digo, comunidade judaica do Rio Grande do Sul, a
visão universal de Oswaldo Aranha foi motivada pela força de caráter e culto
aos valores permanentes demonstrados pelos judeus. A declaração de
independência do Estado de Israel, em 14 de maio de 1948, consagra princípios
básicos, tais como: é direito natural do povo judeu ser senhor de seu próprio
destino; o Estado de Israel permanecerá aberto à imigração judia; igualdade de
direitos sociais e políticos a todos o seus cidadãos; proteção e preservação de
lugares santos; sufrágio universal; educação compulsória; igual pagamento por
igual trabalho.
Israel é hoje é uma democracia parlamentar e está estruturada no
princípio da divisão dos Poderes - Legislativo, Executivo e Judiciário - onde
se assegura um equilíbrio de forças. Os partidos políticos representam toda a
gama de ideologias - desde comunistas até conservadores-nacionalistas -, dando
expressão orgânica à sua democracia política. Todo o País constitui uma única
jurisdição eleitoral.
A Knesset, corpo legislativo de Israel, é composta de uma única Câmara de 120 membros. Suas principais funções consistem em legislar e supervisar as atividades do Poder Executivo. A Knesset ainda não promulgou - até agora - uma constituição formal, mas já aprovou várias leis básicas, tratando dos seguintes temas: o parlamento, o governo, o presidente, as terras do Estado, as forças de defesa de Israel, a economia do Estado, Jerusalém e o Poder Judiciário. A competência legislativa encontra-se completamente em mão de Knesset e, geralmente, é imune a objeções. Senhoras e Senhores: como é valorizado o Poder Legislativo em Israel! Que respeito às prerrogativas emanadas do povo!
Agora sugerimos aos nossos Constituintes a imperatividade do
conhecimento das coisas de Israel para extraírem elementos e positivos à
elaboração da nossa Constituição, principalmente no que se refere: ao
desenvolvimento regional; à defesa; à educação; ao trabalho e emprego; à saúde;
aos serviços sociais; à economia; à qualidade de vida. Israel coloca ainda à
disposição sua experiência e perícia em áreas tais como: agricultura,
hidrologia, planificação regional, saúde, liderança juvenil e organização
comunitária. E aqui conclamamos o Governo do Rio Grande do Sul e a
municipalidade de Porto Alegre para firmarem um acordo de intercâmbio cultural
com o Estado de Israel, visando ao nosso desenvolvimento.
O aniversário da independência do Estado de Israel é um símbolo que
representa inspiração espiritual da identidade e unidade judias, de geração em
geração, sendo este ano - o do 39ª aniversário - caracterizado por um
significado muito especial, que é o ano do centenário de nascimento de David
Ben Gurion, extraordinária criatura, comparável a Moisés na nacionalidade
judaica. Shalom.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (Brochado
da Rocha):
Com a palavra, o Sr. Abrahão Finkelstein, Presidente em exercício da Federação
Israelita no Rio Grande do Sul.
O SR. ABRAHÃO FINKELSTEIN: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores, demais autoridades, meus Senhores e minhas Senhoras.
“Se o quiserdes, não será uma lenda”. Este pensamento de Teodor Herzl,
idealizador do movimento de retorno do Povo Judeu à Terra Prometida,
consubstancia toda a filosofia que necessitava renascer no íntimo desse mesmo
povo para que o seu sonho milenar - a volta a Sion - se tornasse realidade.
Teodor Herzl, jornalista e escritor vivia, então, na cidade que era o centro
dos novos ideais, especialmente aqueles da liberdade e da valorização do ser
humano em todos os aspectos - Paris. A França irradiava para o mundo a
aspiração multissecular da humanidade: uma sociedade igualitária, na qual todos
os títulos de nobreza, todos os privilégios decorrentes das elites dominantes
pudessem ser substituídos por uma única palavra, representativa de direitos e
deveres iguais para todos: a de cidadão. Foi nesse clima de liberdade política
que traria o conseqüente progresso social que Teodor Herzl escreveu o seu livro
“O Estado Judeu”. Nele estavam apontados os caminhos para a fundação do que é
hoje o Estado de Israel, cuja Independência estamos comemorando.
O 39º aniversário da jovem nação transcorre no ano em que se comemora o
centenário de nascimento de David Ben Gurion - inconteste líder político do
nosso tempo e um dos fundadores do Estado de Israel. Ben Gurion representava um
exemplo - autêntico e realista - dos anseios dos pioneiros decididos a
concretizar o sonho do povo judeu. Jovem ainda, quase menino, toma conhecimento
do livro de Herzl. Vê, nessas idéias, uma luz resplandecente que o conduziria
em direção ao seu destino.
Começou a sua luta como simples agricultor, lavrando a terra que em
seus sonhos amava. Em 1906 escrevia: “A terra árida que hoje estou pisando só
requer um pouco de nosso amor para voltar a ser fértil e abundante como era
quando dela nos separaram, há vários séculos”. Palavras proféticas, pois a Ben
Gurion seguiram-se muitos e muitos outros pioneiros que acreditavam no mesmo
ideal: era preciso amar a terra, cultivá-la, fazer renascer as plantas, as
flores, transformar os desertos em jardins, e isso só poderia ser feito com
muito amor e sem medir sacrifícios, que para muitos foi o da própria vida.
Ben Gurion - realista e místico ao mesmo tempo - assim respondia, em
1937, quando intimado a depor pelas autoridades então exercentes do mandato,
referindo-se aos direitos do povo judeu: “Digo, em nome do povo judeu, que a
Bíblia é nosso mandato, a Bíblia que foi escrita por nós nesta terra. Este é o
nosso mandato. É antigo como o povo judeu”.
Por ocasião de sua visita à França, assim foi saudado por De Gaulle:
“Ben Gurion simboliza, em sua personalidade, a maravilhosa ressurreição, o
renascimento, a prosperidade e vitalidade de Israel; a meus olhos, é um dos
maiores estadistas deste século”. Mas um outro líder, de extraordinária
estatura moral e prestígio universal, contemporâneo de Ben Gurion, iria ter
participação decisiva na criação do novo Estado: o Chanceler brasileiro Oswaldo
Aranha. Este é um nome que todo crente de fé judaica guarda carinhosamente em
seu coração e que jamais será esquecido. O Estado de Israel e o povo judeu têm
uma dívida de perene gratidão para com o Brasil e o Rio Grande. Vindo de uma
terra, como a sagrada pátria brasileira e de um torrão de liberdade, como é o
Rio Grande, no qual o preconceito de raça ou de cor, as diferenças de origens
étnicas, ou de quaisquer espécie entre os seres humanos, jamais encontraram
guarida no coração de seus filhos, o Chanceler Oswaldo Aranha, este gaúcho de
Alegrete, além de sua extraordinária visão política, brilhante inteligência e
sólida cultura, possuía a invulgar sensibilidade de saber decidir no momento
adequado. E foi, com certeza, essa sensibilidade que o levou a perceber que
aquele era o momento histórico de colocar toda a sua capacidade de persuasão
ante os representantes das nações, usar o poder de sua experiência como
verdadeiro estadista, não só da Nação Brasileira, mas do mundo - pois naquela
oportunidade estava investido das elevadas responsabilidades de Presidente da
Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas, o organismo de maior
expressão em âmbito mundial.
Aquele povo que, mesmo havendo enfrentado sofrimentos, perseguições e
discriminações através dos séculos conservava viva a chama dos princípios
éticos e morais contidos no Livro dos Livres e sintetizados no Decálogo -
recebido das mãos de Moisés, no Monte Sinai - necessitava voltar ao seu Lar
Nacional, terra na qual esses mesmos princípios tiveram a sua nascente,
irradiando-se para toda a humanidade.
A presença de Oswaldo Aranha - como Presidente da ONU - definiu rumos.
A maioria das nações, entre as quais as grandes potências, votaram, em 29 de
novembro de 1947, a favor da Resolução que abriria os caminhos para o
estabelecimento do Estado de Israel, cujo 39º aniversário da Independência
estamos hoje comemorando.
A longa caminhada do povo judeu está marcada por perseguições e
sofrimentos que atingiram, em nosso século - como resultado da barbárie nazista
- um nível inimaginável para qualquer sociedade humana, por mais primitiva que
fosse. O Holocausto - com a destruição de seis milhões de vidas humanas pela
única razão de serem judeus - representou o maior genocídio da história da
humanidade. Tais fatos históricos jamais devem ser esquecidos para que não
voltem a ocorrer contra quaisquer povos, grupos minoritários ou mesmo um único
ser humano, independentemente de seu credo, cor ou origem étnica.
A história contemporânea não registra, talvez, nenhuma nação que, desde
o seu nascimento, tenha enfrentado - permanentemente - um estado de
beligerância. No entanto, Israel deseja a paz. Todos os seus esforços se
dirigem ao objetivo maior - de seu povo e governo: a obtenção da paz definitiva
que, certamente, irá beneficiar a todos os povos da região, trazendo progresso
e a justiça social para aquela, até aqui, conturbada área geográfica.
A disposição de Israel é evidente. A paz com o vizinho Egito, em
passado recente, o comprova. Israel aceitou o sacrifício necessário, em
devolução de territórios maiores que o seu próprio, e assumiu os riscos de sua
decisão. Quanto aos demais povos da região, tudo nos leva a crer que, mantida a
segurança de suas fronteiras, Israel saberá honrar a palavra de seus profetas:
Shalom - Paz - como a aspiração suprema de todo ser humano.
Finalizando, Sr. Presidente, Srs. Vereadores, desejo, em nome da
Federação Israelita do RS, órgão representativo da comunidade judaica de nosso
Estado, agradecer o gesto dos senhores integrantes desta Casa que, acolhendo a
proposição do ilustre Vereador Geraldo Brochado da Rocha, muito digno
Presidente deste Legislativo Municipal, ensejaram a oportunidade desta
homenagem que muito sensibiliza toda a comunidade judaica, mostrando, por outro
lado, as tradições desta Casa que, democraticamente, prestigia a todos os
segmentos da sociedade brasileira, independente de suas origens ou de quaisquer
outras diferenças, sentindo que é a união destes segmentos, a união de todos os
cidadãos do país - sem exceções - que fará com que possamos dar-nos as mãos em
um esforço conjunto, pelo bem comum de nossa Cidade, do Rio Grande do Sul e do
Brasil. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (Brochado
da Rocha):
Na qualidade de Presidente desta Casa, cabe-me dizer aos Senhores que esta
Sessão Solene, aprovada por unanimidade no dia 23 de março do corrente ano,
eventualmente requerida por este Presidente, é apenas e tão-somente uma
homenagem, sim, mas é também uma possibilidade a mais que a Cidade de Porto
Alegre, que os Vereadores de Porto Alegre, que as pessoas que vivem nesta
Cidade têm de colher os ensinamentos da história, história esta que foi
referida pelos Srs. Vereadores, falando em nome de suas respectivas bancadas, e
que mostra, marca e denomina os traços para que possamos fazer da experiência
de um povo, para que possamos fazer da experiência de uma raça, de sua
história, da sua grandeza uma diretriz para pautar os nossos caminhos, para
saber que, atrás de nós, várias gerações milhares de anos contribuíram para que
construíssem o mundo e para que nós hoje consigamos levar avante as nossas
tarefas. Colhemos o ensinamento de todos os senhores, de sua história e de seu
povo para assumirmos um compromisso. Há anos requeiro esta Sessão Solene no
sentido de fazer relembrar os nossos compromissos com as minorias, os nossos
compromissos contra a injustiça, o nosso dever com a nossa própria consciência
e, sobretudo, os caminhos que devemos buscar nos nossos passos para orientar os
nossos procedimentos no futuro. O dia em que se comemora a independência do
Estado de Israel faz com que todos nós possamos refletir, colher os
ensinamentos, revisar nossos conceitos, critérios e saber quão duros foram os
passos da humanidade e quão duros foram os passos do povo de Israel. Isto tudo
fará com que nós, recolhendo a sabedoria do passado, recolhendo a sabedoria, a
tenacidade de uma luta muito bem posta pelos Srs. Vereadores, que, repito, em
nome de suas bancadas expressaram a história do povo de Israel, digamos que,
apesar das dificuldades do atual momento que vive a humanidade, não podemos
passar e deixar que tão-somente uma tecnologia muito avançada cruze o caminho
do humanismo, cruze o caminho da fraternidade e se sobreponha aos valores
humanos, aos quais nós estamos presentes e devemos nos manter atentos a eles.
Acredito que esta data, sobretudo, marca o momento da humanidade, dos povos,
mas sobretudo o momento das pessoas. Que retemperem as suas forças, reflitam e
julguem que sempre é necessária a luta e que a luta vale a pena. Estes 39 anos
representaram uma luta singular, para não falar numa luta passada, mais longa,
milenar. E tudo isso, certamente, fará de nós, desta Casa, um pouco melhores do
que fomos ontem com os ensinamentos aqui recebidos e a reflexão feita. Sou
grato a todos os Senhores. Repito, uma vez mais, que é dever desta Casa
refletir sobre as grandes lutas da História, das grandes minorias que são
oprimidas na história da humanidade.
A seguir, pediria que fosse executado o Hino do Estado de Israel.
(O Hino é executado.)
Agradecendo, uma vez mais, a todos os Senhores, dou por encerrados os
trabalhos da presente Sessão Solene e convoco os Srs. Vereadores para a Sessão
Ordinária de amanhã, à hora regimental.
(Levanta-se a Sessão às 17h50min.)
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